Romper

Foto: Manuel Antão

Cortar relações.
Dissecar, esfaquear,
separar em partes.
Nunca iguais,
nunca mais,
nunca,
que sempre é demais,
hoje,
não é o bastante.

Desejo

Foto: Bruno Brás Monteiro

Desejo tantas coisas para aplacar minha insatisfação,
a maioria sem serventia,
é tanto tempo perdido em vão.

Alguns desejam,
muitos se culpam,
outros se entregam,
não há perdão.

Mas se me resta
mais um pedido,
desejo à todos
satisfação.

No comando

Foto: Ricardo Verde Costa

Não busco as palavras,
elas me encontram,
vêm na surdina,
colam na mão.

Trilham sentenças,
falam o que não devem,
são tão ingênuas,
dizem quem sou.

Caminho nos versos,
gracejo com a rima,
se as lágrimas regam,
naufrago na dor,

mas se é óbvio o que escrevo,
que não haja engano,
me fazer entender,
é também profissão.

Palavrão

Foto: Carlos Mota

Meias palavras,
Prefiro as inteiras,
Quando valem meias
Pagam confusão.

Meias palavras,
Quando se bastam
São as malditas,
Que levam ao chão.

Se é só a metade,
O que me cabe,
Sinto,
Mas troco
Por palavrão.

Nem doeu

Foto: Henrique de Jesus

Desconcentrei.
Sonhei com um Rei,
ainda era dia,
calor no asfalto.

Desconcentrei.
Mais de uma vez,
no vai e vem,
sorri ao seu lado.

Desconcentrei.
Não sei se fiz bem,

Ou mal a alguém,
mas distrair-se
faz um bem danado.

Desconcentrei.
E nem doeu,
dessa vez,
desconcentrar,

Deixou-me acordada.

Vida

Foto: Susana Ferreira

Não me iludo com a vida,
Não faço planos,
Não conto os dias.
Exercito a que me é posta,
A que não passa,
A que constrói,
Avança e vinga,
Além das apostas.

A que nasce a revelia do bom senso,
Do que convém,
A que não se pauta,
Mas a vida que vem.

E vem instável,
Sempre ilude,
Não tem certo
O que confunde.

Nela não se colhe o que se planta,
Não se cobra o que se deu,
Não se espera o que merece

Só morre o que nasceu.