Não presta

Resta no meu peito algum respeito
por um sujeito que não me respeitou.

Resta,
alguma coisa resta.
Mas respeito?
Não faz sentido e
só presta
se vier da admiração.

Não é o caso,
mas resta.
Alguma coisa ainda resta.
Talvez seja o silencioso respeito
de quem se rende ao repressor.

E isso presta?
Não,
mas é o que resta.
Do respeito, que deu início à festa,
é triste ver o que restou.

Maria

Quem nunca amou uma Maria?
Por arrumar a casa,
ensinar na sala de aula,
ou na infância chamar a atenção.

Quem nunca amou uma Maria?
Por devoção ou pecado,
a seu gosto ou do destino,
por uma noite ou uma encarnação.

Quem nunca amou uma Maria?
Fosse santa ou maldita,
doce ou amarga,
até sem coração.

Quem nunca amou uma Maria,
ainda amará.
Maria é o que não falta,
uma há de te agradar.

Só vendo

foto: Rui Bento Alves

Não preciso de muito,
mas preciso muito
um instante do teu olhar.
Talvez, me vendo,
você possa se enxergar.

Aqueles dias

foto: Luís Ventura

Tem amores que começam
em dias que não terminam.

Exagero

É bem mais fácil sofrer em versos.
Eles que sofram,
que cansem de mim.
Se inundo folhas com palavras,
meu exagero é repartir.

Tem leitor que entende,
tem quem se ofende,
tem quem goste
e quem não lê até o fim.

Escrevo o que sinto,
não sinto o que escrevo,
sinto pela confusão,
só a descrevi.

E se o tanto que sinto,
tanto incomoda,
Sinto,
não resisti.

Inventei moda para ser feliz.
Meio fora de moda,
meio fora de foco,
meio poesia,
meio uma lorota,
talvez seja assim.

De cada lugar se tem uma vista,
uma paisagem,
uma inspiração.
Aqui de onde escrevo,
tudo é muito claro
é tanto exagero,
que não há confusão.
Dor é dor,
alegria é alegria,
e tem final de dia,
que é solidão.