segunda-feira, julho 28, 2008

Sobreviver


foto: Rui Gouveia

Fugi da sua culpa,
da sua raiva,
da sua insensatez,
mas não da sua dor.

Ainda a trago no corpo,
no meu ventre,
no meu coração.

Nunca mais ele bateu direito,
nunca mais descansou no perdão,
sinto até hoje ele queimar no peito.

E foi pegando fogo, que fugi.
Fugi andando de costas,
assim como quem chega.
Falando baixinho,
como quem canta.
De tanto silêncio,
como se fosse surda.

Fugi porque não podias mais te seguir,
porque prometias me machucar,
porque não ficarias aqui.

Fugi do que me magoava,
do que não entendia,
até hoje não sei se esperava.

Impliquei muitas vidas,
desisti das desculpas,
perdi me do destino,
carreguei outras culpas.

Tudo porque fugi.
Não saberia te ver partir.

domingo, julho 20, 2008

Verdade e Bobagens


foto: Jorge Casais

Verdades e bobagens sejam ditas:
Quem não faz papel de covarde quando enxerga o amor?
Quem não teme a tristeza, que o ameaça aonde for?
Quem resiste a tal nobreza, de quem é merecedor?

Se quiserem mentir, mintam.
Se quiserem só o ver, vejam,
mas se o tocarem,
algo há de acontecer.

Pois não há um ser impune, quando teima em crescer.
Não há um ser que se poupe, e deixe de sofrer.
Não há quem o conheça, sem ter que um dia o esquecer.

E já que a verdade se omitiu, diante de um ser maior,
registro aqui algumas bobagens,
que o amor, como ninguém, saberá perdoar.
Deslizes, de quem espera,
alguém que saiba também lhe esperar.

quarta-feira, julho 16, 2008

Bom proveito


foto: Paulo Marques

Gisela?
Quem será essa donzela
que agora ocupa o meu lugar?

Eu, que me acreditei única,
vem a Gisela me perturbar.

Gisela,
mas que donzela!
Serás um nome a me derrotar?
É certo, melhor a verdade,
e que seja a Gisela
a sofrer no meu lugar.

quarta-feira, julho 09, 2008

A morada


foto: Luiz Midéa - www.patrimoniodomatutu.com.br

Não sou minha casa,
minha casa é quem sou.
Não vou para minha casa,
minha casa é onde eu for.

E sempre haverá reforma,
uma nova construção,
não há morada segura,
que o tempo não leve ao chão.

Por isso o que guardo comigo,
são os encontros que acontecem na casa,
os que estimulam mudanças no abrigo,
a começar pelo dono da casa.

domingo, julho 06, 2008

Até outro dia


foto: Fátima Silva

Fui tão feliz até outro dia,
tem pouco tempo
que sorria em vão.

Fui tão feliz para sempre,
o que aconteceu no caminho?
Não sei o que escorregou da minha mão.

Cantava todos os dias
ria da vida,
defendia o pão.

O que aconteceu no caminho,
que me levou ao chão?

Fui tão feliz até outro dia,
ainda bem que nenhum
passou em vão.