Romântica

Não sei viver sem poesia,
sem faz de conta,
fazendo conta,
sem olhar para trás.

Preciso consultar o passado,
saber de onde vim
e, só assim, me sentir em paz.

Preciso reconhecer o que doeu,
o que valeu,
para entender do que sou capaz.

Preciso adormecer sonhando,
acordar com pressa,
correr porque o dia é curto,
diferente das promessas.

Talvez não precise,
mas sou assim.
Uma romântica cheia de defeitos,
cheia de virtudes,
cabeça-dura e coração rude.

Reflexo

foto: Bruno Moniz


Se a porta abre, entro.
Se a porta fecha, assusto.
Se a porta emperra, canso.
Se tem grade, recuo.

A pagar

foto: Marcelo Schmiliver

Não sou covarde,
mas tenho medo.

Não ando sozinha,
mas vivo.

Não conheço o caminho,
mas vou em frente
sem saber mais o que busco,
ou o que me faz contente.

Lembro que era algo com o amor,
mas apagou da minha mente.

Quando?

foto: Isabel Magalhães

Ando sem tempo para nada.
O tempo não sobra,
nem sopra
as feridas que só ele poderia aplacar.

E tento
correr mais que ele,
não dando o tempo
que deveria me dar.

Não posso,
não sei,
não creio,
só sei que já houve outro tempo,
mas faz tanto tempo,
que não lembro mais o que saiu do lugar.

Al dente

Ainda atrevida?
Talvez atraente?
Certamente mais gulosa,
mas no ponto
e al dente.

Você tem um tempinho?

foto: Heloisa Galha

Oi, tudo bem?
Comigo também.
Tudo bem como sempre,
como sempre convém.

Mas tudo é tanta coisa,
quem dá conta do que tem?
Perguntinha sem sentido,
que todo mundo diz tão bem.

E são tantos os dias,
que tudo anda bem.
Mas só Deus sabe por onde anda,
e o quanto custa o vai e vem.

E o tema é corriqueiro,
mas ninguém conta o que tem.
E eu sempre me pergunto:
O que é tudo?
E quem tudo tem?
Quem só com quatro letrinhas,
defende tantos bens?

Quem sabe com mais tempo,
poderia ir além,
mas nessa correria,
quem tem tempo para alguém?

Vale o resuminho:
Sim, tudo vai bem,
mas quando tiver um tempinho
me procure,
conto tudinho,
e se quiser,
escuto também.

O grande final

foto: Dada Moreira

Tive seu respeito por tão pouco
e hoje, depois de tanto,
não me respeitas mais.
Eu, que já fui seu único consolo,
agora me amaldiçoas por não viver em paz.

Minha dor te alcança,
e isso não perdoas.
Como esquecer
se também te deixastes para traz?

E o mundo do herói, que te acompanha,
chega a minha casa pela tv,
suas bravuras não despertam aplausos na vida real.

Decides o que é justo
sem apurar os fatos,
não te interessa a vida mortal.

É dela que foge,
é ela quem não escuta,
ela é quem questiona sua moral.

Minha voz te irrita,
minhas palavras te afrontam,
fazes da minha coragem
insanidade mental.

Pois essa loucura
é o único bem que me deixas.
Não foi minha escolha,
jamais saberia escrever
tão grande final.

Boa noite!

foto: Rui Gonçalves

Antes de dormir
raramente rezo.
Mas sonho com rima,
que tal qual a ti,
leva-me a sentir
bem nesse universo.