segunda-feira, outubro 27, 2008

Conflito


foto: Ricardo Verde Costa

Triste como o que não tem serventia,
o ódio cobrindo o dia
e a escuridão a o confortar.

Triste como quem se rende a companhia
do amor que faz chorar.

Triste como o destino traçado,
atrelado a um cenário
onde o esforço não tem lugar.

Triste como algo mal resolvido,
incerto e impreciso
na rotina a torturar.

Mas o mais triste é acreditar na vida,
no amor e na família
e ter de se questionar.

sábado, outubro 25, 2008

Loucura


foto: Rubem de Almeida

Lembro de ter dito:
te amo.
Faz tempo,
era outro tempo,
um passa-tempo,
que me ocupou.

E disse
e também ouvi,
são só palavras
quem não as diz?

Mas isso tem tempo
e foi-se o tempo
das juras o do fervor.

Hoje, me restrinjo
a sexo e respeito,
que, infelizmente,
nem sempre
cabem no amor.

terça-feira, outubro 21, 2008

Nas tuas mãos


Sou uma pipa a mercê do vento,
fragilmente presa ao chão,
basta uma simples brisa
para me sentir um avião.

Capaz de comandar o meu destino,
decidir a direção,
querer voar sozinha
longe das tuas mãos.

domingo, outubro 19, 2008

Tudo bem

Oi, Tudo bem?
Comigo também.
Tudo bem como sempre,
como sempre convém.

Mas tudo é tanta coisa,
quem dá conta do que tem?
Perguntinha sem sentido,
que todo mundo diz tão bem.

E são tantos os dias,
que tudo anda bem.
Mas só Deus sabe por onde anda
e o quanto custa o vai e vem.

Mas o tema é corriqueiro
e ninguém conta o que não tem.
E sempre me pergunto:
o que é tudo?
E quem tudo tem?
Quem só com quatro letrinhas
defende tantos bens?

Quem sabe com mais tempo,
poderia ir além,
mas nesta correria,
Quem tem tempo para alguém?

Vale o resuminho:
sim, tudo vai bem.
Mas quando tiver um tempinho,
me procure,
conto tudinho,
e se quiser,
escuto também.

domingo, outubro 12, 2008

Me conduza



Senhor, fiz mais um ano
e mesmo sabendo o quanto é pouco para ti,
sou mulher, e convenhamos,
isso pesa por aqui.

Senhor, sei que envelhecer é um presente
e que a vida se renova assim,
mas será que entendes?
Enquanto o tempo te eleva,
não faz o mesmo por mim.

Por aqui leva atributos
difíceis de ver partir,
sem contar os dias cada vez mais curtos,
mal dá tempo de se divertir.

Por misericórdia, és o Senhor,
a que outro homem posso pedir?
Para relevar o meu passado
e me acolher em um belo por vir!

Sei que não colaboro,
e quando me dizes por onde ir,
faço o que quero,
e sempre com pressa,
nunca paro para te ouvir.

Mas talvez sejas o único homem
para quem não precise mentir,
que outro me amaria sabendo
o quanto é difícil me conduzir?


segunda-feira, outubro 06, 2008

Vale, mas pesa pouco


foto: José Paulo Andrade

(Ao dia do escritor)

Qual a importância de conjugar algumas rimas?
Que reconhecimento um verso pode alcançar?

Ainda se o punho for de um erudito,
de um magnata,
de um grande artista,
alguém em particular.

Com razão ou por curiosidade,
por prestígio ou para aplacar vaidade,
talvez valha respeito
ou mesmo algo de menor valor.

Mas poemas de autor sem bagagem,
sem sobrenome,
talvez com duvidosa coragem
de expor em público seu coração?

Qualquer um escreve versinhos.
Quem não foi poeta um dia?
Basta ter o tempo mal pago,
papel e caneta e rimar flor e dor.

Poema não enfeita sala,
não têm tamanho para tela de cinema,
não sobe no palco
e só ganha capa dura de livro
se forem muitos,
na solidão, perde o valor.

Mas o poeta vive é da rima
e não de aplausos.
Afinal, verso é artigo embriagado e boêmio,
que na essência,
só sofre de amor.

E na tarefa de defender um troquinho
cativando a leitura dos nobres,
não há como escapar dos espinhos,
no longo e solitário caminho,
atrás da mão de um escritor.