Amigos

Quem tem amigo tem tudo.
Tem com quem chorar,
a quem recorrer,
prazer em ajudar
e colo para esquecer.

Quem tem amigo tem tudo.
Mas, mesmo poucos,
é preciso cultivar alguns,
ao menos três ou quatro
para não exceder o que cabe a cada um.

E vale diversificar no sexo,
variar o tipo de abraço,
de consolo,
as possibilidades de diversão.
Sem contar as conversas,
as trocas de verdades,
que desvendam segredos para o coração.

Quem tem amigo,
alguém que te conhece
e, mesmo assim,
te quer bem,
tem tudo.

Hitórias...

foto: Pedro Tavares

Uma história são muitas histórias.
Muitos jeitos de ver, ouvir, contar e guardar.
Outra importante variação
é o momento que começam e acabam.
A intervenção que salva os contos de fada.
Poupa-os da vida que segue,
que padece de grandes finais.

Talvez não haja história completa.
Só trechos.
Pedacinhos de uma
ou de muitas outras histórias,
que vão mudando de gênero,
improvisando,
cometendo erros
e se ajustando como podem no final.

Às vezes, são tão extraordinárias,
que passam por ficção.
Em outras, ensaiam romances,
mas terminam em dramas
ou pior ainda,
histórias de horror.

Também tem as que se repetem
e as que nunca chegam ao final.
Do tipo teimosa,
Como história de amor que nos esquece,
mas nós, não as esquecemos jamais.
E a cada novo personagem que acolhem
é mais uma versão a se considerar.
É a magia da história,
seu poder de convidar a sonhar.

E se é fácil contar histórias,
difícil é vivê-las,
conduzi-las com sentido.
Desvendar o caminho das palavras,
que escrevem histórias
inesquecíveis.

Faisca

Às vezes, leva-se anos para reconhecer o coração vazio.
Noutras, basta uma faísca para ocupá-lo.

Feliz

foto: Carlos C.

Sou feliz escrevendo versos,
mas nem sempre os escuto.

Sou feliz fazendo amor,
por mais que custe amar de fato.

Sou feliz quando acredito,
por natureza,
por pura falta de coerência.

Sou feliz quando me acho
e infeliz quando me enxergo.

Uma janela para a vida

foto:Marcelo Schmiliver

Uma janela vale uma vida,
uma vida abre uma porta,
uma porta serve a rua,
uma rua cruza a outra.

Uma outra leva quem amo,
amo tantos buscando alguém,
quem saiba falar bobagem,
coragem que poucos têm.

Amém diz quem tem medo,
ledo engano que convém,
mas quem enfrenta o medo,
cedo sofre o que o outro tem.

Trem bom é compreender a sorte,
de ter norte e amar alguém,
a quem não espere a morte,
e suporte ser feliz com o que tem.

Nem que seja a esperança,
na diferença do que se funde,
confunde quem não vê graça,
na raça de quem fecunde.

Se curve a quem mereça,
e esqueça quem for confuso,
se o fuso faz diferença,
a crença tem pouco uso.

No mundo sempre desando,
ando buscando refúgio,
não fujo, mas persigo um diabo,
que dê cabo e não fuja do assunto.


E junto à paixão que diverte,
converte o amor que procuro,
mas no escuro quem é que enxerga
a brecha que ameaça o muro?

E rumo conforme o discurso,
mas em curso todos pagam o preço,
do apreço que vai lá no fundo,
no fundo tudo é só recomeço.

Começo sempre pelo amor,
a dor que não quer ser contida,
habita além da janela,
uma janela vale uma vida.

Mais um

foto: Zacarias da Mata

Perdi o senso do amor,
da educação, da tolerância.

Transformei-me em um pivete armado,
mais um filho da ignorância.

Conduzido pelo desespero,
pela fome, até por vingança.
Mais um a aprender que a vida
não faz sentido sem esperança.