quarta-feira, março 17, 2010

Só um menino

Meu menino não é um anjo,
nem um gigante,
é só um menino que sonha em domar um dragão.
Ele é igual a muita gente,
que brinca de enfrentar leão.

E por ser pequeno
há quem confunda
tamanho com imensidão.
Mas meu menino só voa alto,
porque se arrisca a desenhar avião.

E entre tantos vôos rasantes,
não foram poucos
os que o levaram ao chão.
Mas meu menino,
como tantos,
chora e levanta
se lhe dão a mão.

É um menino,
de espada em punho,
às vezes,
um grande urso,
um valentão.
Mas tem noite,
que dorme encolhidinho,
como qualquer menino
com medo de bicho papão.

E se ele se arrisca
na corda bamba,
o que ele quer é tocar violão,
afinado com o menino,
que sempre bagunça o meu coração.

sexta-feira, março 12, 2010

Mentirosos?

Poetas são mentirosos?
Acho que não.
Talvez tendenciosos,
com algum talento para a razão.

Usam as palavras com graça,
mas ao conjugarem os verbos,
nem todos têm compaixão.

Poetas escrevem o que não se fala,
comovem nas entrelinhas,
mas nunca são claros nas intenções.


terça-feira, março 09, 2010

Uma janela

Uma janela vale uma vida.
Uma vida abre uma porta.
Uma porta serve a rua.
Uma rua cruza a outra.

Uma outra leva quem amo.
Amo tantos buscando alguém.
Quem saiba falar bobagem,
coragem que poucos têm.

Amém diz quem tem medo,
ledo engano que convém,
mas quem enfrenta o medo,
cedo sofre o que o outro tem.

Trem bom é compreender a sorte,
de ter norte e amar alguém.
Quem não espere a morte
e suporte ser feliz com o que tem.

Nem que seja a esperança
na diferença do que se funde,
confunde quem não vê graça
na raça de quem fecunde.

Se curve a quem mereça
e esqueça quem for confuso.
Se o fuso faz diferença
a crença tem pouco uso.

No mundo sempre desando,
ando buscando refúgio,
não fujo, mas persigo um diabo,
que dê cabo e não fuja do assunto.

E junto à paixão que diverte,
converte o amor que procuro,
mas no escuro quem é que enxerga
a brecha que ameaça o muro?

E rumo conforme o discurso,
mas em curso todos pagam o preço,
do apreço, que vai lá no fundo,
no fundo, tudo é só recomeço.

Começo sempre pelo amor,
a fé que não quer ser contida,
habita além da janela,
uma janela vale uma vida.

segunda-feira, março 01, 2010

Exagero



É bem mais fácil sofrer em versos.
Eles que sofram,
que cansem de mim.
Se inundo folhas com palavras,
meu exagero é repartir.

Tem leitor que entende,
tem quem se ofende,
tem quem goste
e quem não lê até o fim.

Escrevo o que sinto,
não sinto o que escrevo,
sinto pela confusão,
só a descrevi.

E se o tanto que sinto,
tanto incomoda,
sinto,
se comprometi.

Inventei moda para ser feliz.
Meio fora de moda,
meio fora de foco,
meio poesia,
meio uma lorota,
talvez seja assim.

De cada lugar se tem uma vista,
uma paisagem,
uma inspiração.
Aqui de onde escrevo,
tudo é muito claro,
é tanto exagero,
que não há confusão.
Dor é dor,
alegria é alegria e
no final do dia
é solidão.