Amor embriagado

Álcool,
destila fraquezas,
fermenta desejos,
envelhece em segredo.

Álcool,
nos faz refém de delírios,
inspira amor ao covarde,
e ao valente, o domínio.

Álcool,
esse maravilhoso álcool,
que lembra a libido,
o vício e
dá motivos para ir além.
Mais álcool!

Álcool,
que a uma altura deixa a pele macia,
convidativa,
e faz o corpo sonhar,
geralmente,
com quem não deveria.

Álcool,
atende a insensatez,
provoca o amor confinado,
inflama o reprimido,
afoga o desprezado.

Álcool,
povoa o coração irresponsável,
perdoa quem não resiste,
quem se desmancha ao chamado.

Álcool,
quem mais é capaz de derrubar na cama,
de transbordar em desejos
e por em dúvida
o amor que se ama?

De graça

foto: José Vaz Menezes

Tem gente que gosto de graça.
Só pela graça de ser gente,
de me lembrar que também sou.

Gente que frequenta a minha casa
e sempre traz de presente
algo de valor.

E é tanta gente,
de tanta raça,
a entender a desgraça
como um outro sabor.

Tão raro e precioso
como um monte de gente,
que a gente gosta
e gosta da gente,
de graça,
como é o amor.

Você não existe!

Olhei-me procurando a verdade.
A quantas personagens dou vida
e quantas mato a cada página virada?

Existo ou não existo?
Se há platéia me apresento,
mas, se a noite é de casa vazia,
tiro o aplauso da solidão.

É quando mais existo,
entre encontros e despedidas,
regados a tabaco e cerveja,
ora elogios, ora acusações.

Em noites que me divirto de graça,
só com palavras e alguma emoção.

Luisa

Tem drama na veia,
vem com L de linda,
quando sacode a poeira
Luisa tem rima.

Tem o frescor da brisa
que anuncia a tempestade,
tem sonho de menina,
acordando para a maldade.

Tem a alegria da promessa,
que ainda não conhece a saudade,
mas não precisa ter pressa,
a vida caberá na sua vontade.

E as arestas que todos deixamos
saberás tirar proveito.
Luiza não é nome de flor,
é de furacão
e nasce com o vento.

Perco a graça

foto: Maria Perez

Vou te esquecendo como posso,
lentamente.
Sigo o fluxo em linhas retas
sem me importa onde vai dar.
Vai ser sem você,
que graça tem qualquer lugar?

Abraço bom...

foto: SMB

Um dia um loiro chegou na minha vida para me ensinar um amor.
Um dos mais lindos
e, para isso, claro,
com um tantinho de dor.

Um amor equilibrista,
um amor de comunhão,
um pelo outro, sem qualquer objeção.

Um amor que não se esquiva,
nem diante de um leão.
Um amor que quando abraça
faz feliz o coração.

Reencontro

Não escolhi a renuncia,
ela se impôs.
Não esqueci nossas conversas,
elas cessaram.
Não disparei contra a vida,
ela se ressentiu,
Não sei me despedir de você,
nem você de mim.

Ficaremos os dois em um mundo à parte,
esperando um novo reencontro.
Um, que não nos mate.

Bum

Sou uma bomba.
Tic tac,
tic tac.
Às vezes, nuclear,
noutras de chocolate –
no calor não sou de agüentar.

Sou uma bomba,
um tormento,
um estrondo de canhão.

Alcanço o céu.
Acabo no chão.

Simplesmente

Meu coração não fala,
escreve.
Meu coração não cansa,
esquece.
Meu coração não manda,
nem desmanda,
obedece.
Nem sempre quem o inspira,
mas sempre quem o reconhece.

Quem diria?

foto: Raul Nunes

Não contradigo os fatos,
nem os contesto,
adapto-me a eles,
como um molusco a rastejar.

É tudo tão contaminado,
a imensidão é indescritível,
o vazio espetacular.

A dor nem pede passagem,
atropela todas as falas,
não quer desculpas,
nem se consolar.

Vem guiando os passos,
pedindo socorro
e não acha ninguém para ajudar.

É tanta dor,
tanto medo,
tanto a superar,
que quem se aproxima
nunca sabe o que falar.

Foi uma linda história,
que a amargura resolveu recontar.

Não sobrou nada,
nem lembranças para apagar.

Prejuízo (deles)

foto: Alexander Khariamov

Amei poucos,
mas muito.

Muitos me amaram,
mas pouco.