sábado, novembro 24, 2007

Se não compensa...


foto: José Vaz Meneses

Fui olhar o dicionário,
procurar “compensação”,
tentar entender a palavra
que rege uma multidão.

Se não compensa,
não ressarci,
não indeniza,
é mau negócio,
poucos arriscam ficar na mão.

Em compensação,
não dá para ser ambicioso,
muito menos sonhador,
pelo que entendi,
ela garante certa felicidade,
mas é como prêmio de consolação.





terça-feira, novembro 20, 2007

?


foto: Rui Matos



O que devo fazer com hoje?

Será que deixo para amanhã?

Já é tão tarde,

a noite reclama,

não lhe dou descanso

nem me dá perdão



Como pode abraça,

como beija, morde

como consente a farsa,

como acredita em vão



que não tem promessa,

onde é só vontade,

quer maior verdade

que a inspiração?



Não busco culpados,

nem conheço vítimas,

só a fantasia sem exatidão



quando é muito nítida,

como é nos meus olhos,

conta o que não deve

dói no coração.


segunda-feira, novembro 19, 2007

Atrevimento



Atrevimento
é se expor a chuva forte,
é permitir mudanças no cheiro do dia,
é se deixar entorpecer pelas narinas,
inalar o aroma, até
sem o identificar.

Atrevimento
é reconhecer as mudanças do tempo,
e mesmo sem prever tempestade,
esperar ela se aproximar.

Atrevimento
é não temer o resfriado,
e permitir ao corpo,
o prazer de se molhar.

sábado, novembro 10, 2007

Ta chovendo...



Vou esperar o amor sentada,
preciso recuperar minhas forças,
afinal, ainda tenho muita estrada
não ganho nada em desanimar

mas vou dar uma descansadinha
depois seguirei adiante
cada hora é um caminho
só não acho o meu lugar.

mas se der sorte,
ainda hoje,
voltarei a ouvir a chuva,
e como sou forte
desta vez,
deixarei que ela
tenha o prazer de chorar.

Amigos


foto: Antônio Jorge Nunes



É sábado, mas trabalho,
finjo, na verdade escrevo
e na busca de inspiração fui ler poemas.
Para que?
Lembrei de um monte de gente,
que conheço e que nem reconheço mais
gente igual a todo mundo,
como eu, com poucos amigos.
Pensei como um amigo é um presente especial,
um lugar que não se ocupa facilmente
tem dois lados desiguais
e assim como a paixão,
uma química ardente.

E fazendo comparação com o amor,
lembrei que a amizade também é construída no exercício da vida.
com o tempo, a entrega, o respeito,
todos difíceis de se exercitar.
todos difíceis de esperar.

E ainda pensando na amizade
lembrei de abraços,
daqueles que deixam a gente seguro,
que aperta, amarra laços.

Mas do jeito que anda minha vida
sempre aparece quem me veja mais bela contida pela dor
estes eu não abraço, nem serão meus amigos.
Estes não provarão do meu calor.

E quem me imagina sofrendo,
mesmo eu estando,
não me imagine perdida,
não sou quem fica esperando.

E dos poemas que fui ler
gosto é dos fortes, delicados, intensos,
os que provocam sem saber
as duas mulheres que exerço.

Pois mesmo quem sabe da minha história
nem sempre entende as duas que me habitam.
Uma a cheia de graça,
a outra, que se recente da vida.

A cheia de graça, entrego a todos,
amigos, família, desconhecidos,
todos que a queiram.

A outra,
apesar de muitas vezes me ocupar inteira,
guardo-a como um segredo,
um segredo só para amigos.

É ela quem leva minha fragilidade,
a difícil aceitação de precisar do outro,
de não ser completa.
Não abro essa guarda fácil,
não a revê-lo a qualquer promessa.

Mas voltando aos poemas que li.
que nem sabiam quem eu era,
confesso,
foram poucos os que me deixei abraçar,
semear na minha terra.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Só hoje


foto: F. Monteiro

Hoje eu to cansada,
sem graça,
sem meias-palavras,
perdi o prumo

Hoje nem a pirraça
nem a revolta
muda meu rumo

Hoje a realidade me chama
não tenho escolha,
nem a fantasia
me tira do escuro

Hoje assumo o fato
que a minha história
não tem consolo
o amor é mudo.

Tudo em ordem




foto:João Prates


Quero a vida em ordem
Uma resposta na ponta da língua
e a minha casa longe da morte.

Quero que seja mais fácil
mais comum,
que haja disfarce
e não motivo algum.

Quero desafios possíveis,
fotografados,
quero-os em um porta-retrato
guardando algo de mim

Quero meus descendente,
meus netos
e um punhado de gente,
a minha volta,
eu, com a vida em ordem
e eles, velando meu fim.

domingo, novembro 04, 2007

Dois em um


foto: Alicina


O amor não tem pressa,
chega sempre devagar
já a paixão não tem paciência,
nunca diz quando virá

o amor é tão tranqüilo
não se importa de chorar
já a paixão não suporta,
quer prazer para consolar

o amor vem da rotina
do exercício de melhorar.
A paixão não segue regras,
vale até se machucar.

o amor é um prêmio,
só conquista quem se esforçar
a paixão é um presente,
que todo amor deve guardar.

sexta-feira, novembro 02, 2007

Ensaiar para aprender


foto: Dionisio Leitão


Ah! papel em branco...
é sempre uma tentação
deixar nele as pegadinhas
que marcaram o coração

pode não valer a leitura
mas é tão mágico ser conduzida pela mão

mesmo quando as palavras brotam
sem sentido,
sem direção,

não resisto em arriscar versinhos

chorando, rindo,
e se der,
me divertindo,
acreditando na inspiração.

me esforçando para alcançar o dia
em que possa nascer um poema
que não tenha sentido
só no meu coração.